Na última terça - feira, dia 17 de abril de 2018, se deu o terceiro dia do encontro convocado pelos companheiros do Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN) : ""Miradas, escuchas y palabras ¿Prohibido Pensar? ". Sobre os que formaram parte da mesa, aí estavamos convidados, intelectuais - acadêmicos de México e Argentina: Carlos Aguirre Rojas, historiador mexicano; Alicia Castellanos, antropóloga mexicana; Gilberto López y Rivas antropólogo; Alejandro Grimson, antropólogo argentino.
Também formavam parte da mesa o Subcomandante Galeano, Subcomandante Moisés e mulheres zapatistas participante da Comissão Sexta.
Palavras do Subcomandante Galeano
Considerações sobre as giras de arrecadação de firmas: a 'outra campanha' de Marichuy e do CIG. Balanço dos companheiros do EZLN.
A mesa teve início com as palavras do Subcomandante Galeano. Falando sobre a campanha para arrecadação de firmas e o duro trajeto que havía percorrido Marichuy desde que começou as giras. Foi emocionante e extremamente importante a visão real e humanizada dada pelo Subcomandante como voceiro de todos os membros do EZLN. Ele dizia o quão importante foi o recorrido feito por Marichuy nos últimos meses no que diz respeito a organização dos povos de abaixo mas, também considerava o quanto havia custado pessoalmente a Marichuy toda esta empreitada. Falou do seu desgate físico e psicológico; lembrou a morte da companheira Eloísa Vega Castro no acidente¹ vivenciado pela caravana do CIG (Consejo Indígena de Gobierno) no dia 14 de fevereiro deste ano. Deste acidente, além da morte da companheira Eloísa, já mencionada, sai lesionada do braço esquerdo Marichuy e segue com ele mobilizado até hoje.
O Subcomandante Galeano celebra a coragem, vitalidade, tranquilidade e resiliência de Marichuy ao se dispor a entrar nos meios mediáticos racistas do México. Segue o Sub falando da infinita coragem e resistência de Marichuy, quando aborda o tal 'não alcançamos as firmas'.
O 'tal não alcançamos as firmas', segundo o Sub, já era previsto pelo EZLN. Não porque estivessem torcendo contra mas porque sabiam que o mais importante era recorrer e organizar os povos, escutá-los em suas lutas e aproximar cada vez mais uns dos outros.
Marichuy não alcançou as firmas para aparecer como candidata à presidência do México nessas eleições de 2018 mas alcançou muito mais do que isso. Alcançou ouvir e ser ouvida em 26 estados da república mexicana, esteve e construiu espaços de autonômia e solidariedade por onde sua caravana passava. Foi um verdadeiro fenômeno: o sentir solidário, as redes que se conformaram e a comunicação intergeneracional apreendida.
O Subcomandante Galeano segue apresentando aquele que seria o balance do EZLN como organização aos companheiros do CNI.
No fim do balance pondera questões que para mim são importantes. Há sim a possibilidade de fraude nos resultados arrecadados em firmas, muitos andam indignados porque creem que sim foi possível alcançar o número de firmas e elas foram borradas do registro pelo INE (Instituto Nacional Eleitoral). No entanto, a reflexão que nos trouxe o Subcomandante, vinculando-se ao que havia dito do desgate da Marichuy e o quão duro foi manter as giras, é de que: "o que haveria passado se Marichuy estivesse na boleta eleitoral como candidata?O quanto isso custaria mais para a organização e para ela, em nível de desgate pessoal e físico?Qual seria o valor cobrado pelo poder se esse feito fosse alcançado? Poderiam sequestrá-la?".
Muita coisa poderia suceder considerando as condições de violência em que todos estão sujeitos no México, todos que lutam e que opõe as formas autoritárias do Estado mexicano : narcoestado!
Palavras do historiador Carlos Aguirre Rojas
E vocês, quê?
Em uma fala que abrangeu as estruturas do Estado, governo ou poder político desde uma perspectiva sistêmica e de larga duração, Carlos Aguirre considerou três pontos como principais: 1) o que são as eleições polítcas? 2) O que é o Estado, governo ou poder político desde a experiência histórica? 3) Sobre o poder: poder político do Estado; o que vamos colocar no lugar?
Contextualizando com teoria e experiências contemporâneas recentes, o historiador percorreu um largo caminho desmensurando como se dão as estruturas do poder do Estado e suas formas de reprodução, afirmando que nenhum Estado é bom e que por sua essência, deveria ser destroçado para se construir no lugar contra poderes que vem 'desde abajo', desde a luta popular. Fala que depois encontrará ressonância e contradições nas palavras do próximo componente da mesa Alejandro Grimson.
Passado o núcleo da sua argumentação em torno do Estado, o historiador ressalta a importância dos eventos convocados pelos companheiros zapatistas, referindo-se ao próprio conversatório vigente e também ao 'Primer Encuentro de Muejeres Luchadoras del Mundo' que aconteceu em março de 2018. Carlos diz que a grande sacada de todo este movimento que têm feito o EZLN, particularmente ou como em ocasião das eleições junto ao CNI, é de convocar as pessoas apresentar o que eles fizeram e fazem em sua luta e no final dizer aos demais participantes que acudiram as convocatórias: E vocês, quê? O que tem feito? Como está sua organização? Como superam suas dificuldades? Como se dá o campo de luta de todos?
¹ http://www.jornada.unam.mx/ultimas/2018/02/14/caravana-del-consejo-indigena-se-accidenta-en-bc-marichuy-esta-lesionada-5428.html
Agradecimento pelas fotografias: Gastão Guedes
Link para o video completo:
http://enlacezapatista.ezln.org.mx/2018/04/15/transmisiones-del-conversatorio-miradas-escuchas-palabras-prohibido-pensar/
Player: SESIÓN DEL MARTES 17 DE ABRIL