terça-feira, 19 de junho de 2007

Zapatistas saúdam Congresso do MST

No texto, o Subcomandante Marcos, símbolo da resistência indígena no México, se dirige aos "companheiros e companheiras do MST" e elogia a "sabedoria, decisão e firmeza" dos Sem Terra "nas duras jornadas de luta pela terra". Marcos lembrou a célebre frase de Emiliano Zapata: - "A terra é de quem trabalha nela"

PAUTA - Um vídeo com uma mensagem do Subcomandante Insurgente Marcos, em nome do Exército Nacional de Libertação Nacional do México, foi apresentado aos 18 mil delegados no 5º Congresso do MST, que termina hoje (15/06), em Brasília.

O apoio se junta aos manifestados pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, que visitou a ciranda infantil do congresso, pelos governadores Roberto Requião e Jackson Lago, pelo ex-presidente da República Itamar Franco, por dezenas de parlamentares e pelo presidente de Cuba, Fidel Castro, ao Movimento Sem Terra e à luta pela Reforma Agrária no Brasil.

No texto, o Subcomandante Marcos, símbolo da resistência indígena no México, se dirige aos "companheiros e companheiras do MST" e elogia a "sabedoria, decisão e firmeza" dos Sem Terra "nas duras jornadas de luta pela terra". Marcos lembrou a célebre frase de Emiliano Zapata: - "A terra é de quem trabalha nela". Marcos defendeu também a luta do MST e disse que "logo farão 100 anos desde que seu grito de "Terra e Liberdade" sacudiu os campos e cidades do México. Assim voltará a ser. E voltaremos a tornar nossa a terra, não só porque somos nós que trabalhamos e a fazemos produzir", escreveu.

O mexicano também se referiu ao lema do Congresso - "Reforma Agrária: por Justiça Social e Soberania Popular" e afirmou que "nenhuma nação pode se chamar verdadeiramente livre e soberana se a terra não é de quem trabalha nela, e não pode haver justiça social enquanto se continuar produzindo para o estrangeiro ladrão e não para o povo trabalhador."

"Que o vento da rebeldia que vem do Brasil avive a resistência indígena no México", encerrou o Subcomandante Marcos. O EZLN é grupo revolucionário baseado no estado de Chiapas, no México, que adotou a luta armada para resistir à opressão sofrida por povos indígenas no país. O movimento defende a democracia direta e luta também contra o neoliberalismo.

LEIA ABAIXO A ÍNTEGRA DA CARTA DO SUBCOMANDANTE MARCOS

11 de junho de 2007.

Ao V Congresso do Movimento dos Sem Terra
Brasília, DF
América Latina

Companheiros e companheiras,

por minha voz, fala a voz do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN).

Em nome das mulheres, homens, crianças e idosos do Exército Zapatista de Libertação Nacional, recebam todos e todas vocês, companheiros e companheiras do Movimento dos Sem Terra do Brasil, nossa saudação zapatista.

Sabemos que nestes dias estão realizando seu Quinto Congresso nas dignas terras brasileiras e gostaríamos de um pequeno espaço na batida generosa de seu coração para nossa palavra.

Nós, os e as zapatistas do México, sentimos fraternidade por todas as organizações e pessoas que lutam pela terra, apreço por quem a vê como uma mãe, e respeito por quem enfrenta tudo para tornar realidade o que Emiliano Zapata afirmou: " A terra é de quem trabalha".

O Movimento dos Sem Terra (MST) do Brasil reúne tudo isto no nosso coração moreno: tem nossa mão irmã, nosso carinho e nosso respeito, mas também tem nossa admiração.

Ainda que à distância, são várias formas pelas quais sabemos de vocês, de seus sofrimentos e suas lutas. A sabedoria, decisão e firmeza que têm demonstrado nas duras jornadas de luta pela terra são, para nós, ensinamentos e satisfação. Ensinamentos porque aprendemos com vocês.

Satisfação porque, ao saber de vocês, sabemos que há alguém que luta pela terra para defendê-la e trabalhá-la com dignidade.

Mas, ainda que ninguém volte a vê-los, ainda que todos fechem portas e ouvidos a vocês, ainda que encontrem apenas incompreensão e desprezo, têm e terão no nosso coração moreno um lugar especial, em nosso olhar uma porta sempre aberta no nosso coração, um ouvido atento e respeitoso ao nosso caminhar, uma admiração sincera em nossa voz e a compreensão que só existe entre quem tem na terra uma mãe, uma história, uma luta e uma bandeira.

Nosso general Emiliano Zapata disse que a terra é de quem trabalha. Logo farão 100 anos desde que seu grito de "Terra e Liberdade" sacudiu os campos e cidades do México. Assim voltará a ser. E voltaremos a tornar nossa a terra, não só porque somos nós que trabalhamos e a fazemos produzir, mas também porque ao cultivá-la, cultivamos nós mesmos.

Sabemos que este seu Quinto Congresso tem o lema: "Reforma Agrária: Por Justiça Social e Soberania Popular". Quanta verdade há nessas palavras! Porque nenhuma nação pode se chamar verdadeiramente livre e soberana se a terra não é de quem trabalha nela, e não pode haver justiça social enquanto se continuar produzindo para o estrangeiro ladrão e não para o povo trabalhador.

Companheiros e companheiras:

Não sei se vocês já sabem, mas vocês já sabem e eu repito: aqui, nas montanhas do sudeste mexicano existe alguém que quer seu bem, que lhes admira e aprende com vocês. Há alguém que sabe que não se renderão. Há quem saiba que nossas lutas tem o mesmo destino: o da liberdade e a justiça para nossa terra.

Saudamos os companheiros e companheiras; Que o vento da rebeldia que vem do Brasil avive a resistência indígena no México!

Viva o Movimento dos Sem Terra do Brasil!
Da mesma América Latina em que o Brasil e México reescrevem a palavra "dignidade".

Pelo Comitê Clandestino Revolucionário Indígena – Comando Geral do Exército Zapatista de Libertação nacional.

Subcomandante Insurgente Marcos.

México, Junho de 2007.

Tradução - Tamara Ferreira